terça-feira, 19 de julho de 2011

O espaço social da escola!

Se analisarmos a história educacional, perceberemos que o aluno e também a escola, até a década de 80, sofreram muitas influências externas, ou seja, das macroestruturas, que porventura acabavam moldando e induzindo o comportamento dos sujeitos. Só apartir de 80, houve a preferência pela ação do sujeito e a escola passou a perceber o aluno como o centro do conhecimento. A escola é um espaço sociocultural em que sujeitos sociais e históricos devem viver em uma constante dinâmica entre escola e cultura. Conhecer as formas como se delinearam e foram conduzidas a educação, criticá-las, analisá-las e evidenciar sua inadequação pode gerar práticas educativas mais condizentes com nossa realidade brasileira. Hoje, as imposições continuam, mas há uma relação de construção contínua e a visão de que a escola é um espaço social próprio de duas dimensões, que busca tanto delimitar quanto unificar a ação dos sujeitos. A todo instante ocorre o confronto do novo com o velho, mas este confronto deve ocorrer a fim de ampliar a análise educacional para atingir as necessidades do cotidiano escolar.
A escola mantém uma rotina em seu cotidiano, em que acontecem as mesmas coisas todos os dias, e não percebemos a amplitude das diferenças que ocorrem nas relações, a diversidade cultural, étnica e a bagagem que cada indivíduo carrega conseguem.
Professores e alunos se encontram em lados opostos, em vez de estarem lado a lado buscando o conhecimento e o crescimento juntos.
Percebe-se que a escola na está inserida na sociedade, como se fosse um mundo a parte com seus papéis específicos que não atendem a realidade da sociedade como objeto de conhecimento.
Se olharmos atentamente para a escola e para cada um dos alunos do qual dela fazem parte, perceberemos que antes de mais nada, são pessoas, seres humanos também com expectativas e necessidades. Olhá-lo apenas como aluno é muito pouco e como um conjunto então, é inadmissível. O professor não percebe o aluno como um ser único com diferentes vivências, mas sim como um objeto inserido num grupo onde para ele, todos são iguais, homogêneos, tendo as mesmas dificuldades e ansiedades. Os conteúdos são distantes da realidade do aluno e também não atendem aos seus interesses, ou seja, são transmitidos e cobrados tal qual forma passados. Não é valorizada a caminhada do aluno e existe uma desarticulação entre vivência, conteúdos e escola, assim como uma visão estereotipada deste. Muitas vezes passamos por situações em sala de aula que nos dão indícios de que algo não está certo e não percebemos. Se um aluno nos questiona é visto como indisciplinado. Talvez este aluno esteja querendo mais, quer ir além do que é habitual e a escola não está atendendo às suas reais necessidades, esquecendo-se de que ele é um ser humano com múltiplas carências e expectativas e que deve existir um olhar e uma prática mais reflexiva dentro do âmbito escolar.
O PPP deveria contemplar a heterogeneidade dos alunos e atingir a diversidade, no entanto acaba reforçando a desigualdade no momento em que coloca todos no mesmo patamar. Esquece-se de que ao chegarem ali já trazem consigo uma bagagem cultural imensa de vivências e experiências diferenciadas e de que seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social também são diferentes, conforme as relações sociais estabelecidas anteriormente, paralelas e provavelmente posteriores à escola.
Cada aluno possui a sua história, que varia conforme o ambiente em que está inserido, sendo necessário que o professor compreenda-os como seres únicos com objetivos, projetos e valores diferentes.
Não se pode esquecer que o meio produz experiências e estas produzem a história que os faz agir determinadas por sua cultura. O meio social, amigos, sociedade influenciam na construção da personalidade de cada indivíduo onde cada indivíduo tem a sua experiência de vida que é única, onde cada indivíduo é o que viveu e vive modificando-se a medida em que amadurece.
Por mais que se queira rejeitar a realidade em que se nasce e vive ela interfere na construção do indivíduo social que é.
A sociedade é formada por grupos de acordo com interesses e características e os indivíduos vão se inserindo de acordo com as suas necessidades e experiências vividas, que ao longo da vida as necessidades e experiências vão sendo reconstruídas, reelaboradas ou substituídas e novos grupos vão se formando e adaptando-se a sociedade e não o inverso.
Dentro de uma mesma realidade podem existir múltiplas falas, vivências, experiências e interpretações, o indivíduo tem a possibilidade de permanecer, sem modificá-la ou buscar ações que visem transformar esta realidade ou ainda procurar outros grupos com realidades diferentes mas que atendam as suas necessidades individuais.
As relações sociais educam, formam, produzem indivíduos únicos provenientes de realidades também únicas. A educação acontece em diferentes momentos, situações e espaços mesmo informais. Acontecem independente das possibilidades e limitações de cada ser, das imposições da sociedade, do núcleo familiar, da questão econômica e religiosa.
A cultura contempla uma política ideológica presente nos processos individuais, que em muitas ocasiões irão divergir da própria cultura do indivíduo. A partir disto o indivíduo pode adequar-se, divergir, respeitar ou simplesmente apropriar-se do que lhe for conveniente desta cultura, para criar seu projeto pessoal, o qual pode variar de acordo com a idade e amadurecimento.


A escola faz parte do projeto do indivíduo, mas não é o projeto de vida em si, porém dependendo do papel que assume, das ações e relações que estabelece com o indivíduo, pode interferir de forma positiva ou negativa na realização deste projeto. Para cada indivíduo a escola tem um sentido portanto, jamais será universal e poderá desenvolver ações que reduzam-no a cópias idênticas.
O projeto pedagógico tem que atingir tais questões e ampliar os projetos dos alunos. A escola deve ser constantemente um espaço aberto, amplo, inquietante, que coloca regularmente o indivíduo e suas concepções em confronto com as dos outros. Situações como estas devem servir para acrescentar conhecimento, vivência e crescimento ao seu ser e colaborar na reconstrução de novos valores e atribuições.
A escola é um instrumento de educação e não um transmissor de conhecimentos, por isso precisa dar conta dos questionamentos, das deficiências de seus alunos e perceber as diferenças não como deficiências, mas sim como parte de múltiplas culturas, resgatando-as, valorizando-as e destacando estas diferenças dos alunos como ser rico em experiências e história.
A escola tem reflexos da sociedade mostrando a separação entre alunos e professores, com a sua frieza e rigidez quanto a individualidade de cada indivíduo.
Até mesmo a arquitetura escolar é capaz de aproximar ou distanciar os indivíduos, de estimular relações de troca e construção de valores, assim como também pode ajudar a promover ainda mais a segregação e individualidade. Pela organização do espaço escolar percebe-se qual a concepção educativa presente na escola, além do tipo de relação que esta estabelece com a comunidade escolar.

Todas as dependências da escola devem ser pensadas de forma a contribuir para o desenvolvimento de práticas pedagógicas emancipatórias. A escola deve reconhecer-se como espaço de mudança, luta e emancipação de todos os que dela fazem parte
A escola não deve isolar-se, mas sim romper os muros escolares a fim de criar parcerias com o seu exterior. Esta aproximação estimulará a troca, a solidariedade, o respeito, a confiança e a participação de indivíduos que poderão contribuir para o desenvolvimento de práticas educativas mais significativas.
Assim como a escola não deve isolar-se da comunidade e de sua realidade, o professor também não deve reduzir o espaço de aprendizagem a quatro paredes de uma sala de aula, muitas vezes desestimulante. Professores e alunos podem ressignificar o espaço escolar, de forma a ampliar as possibilidades de relações e aprendizado individual e coletivo.

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