sexta-feira, 5 de agosto de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

O espaço social da escola!

Se analisarmos a história educacional, perceberemos que o aluno e também a escola, até a década de 80, sofreram muitas influências externas, ou seja, das macroestruturas, que porventura acabavam moldando e induzindo o comportamento dos sujeitos. Só apartir de 80, houve a preferência pela ação do sujeito e a escola passou a perceber o aluno como o centro do conhecimento. A escola é um espaço sociocultural em que sujeitos sociais e históricos devem viver em uma constante dinâmica entre escola e cultura. Conhecer as formas como se delinearam e foram conduzidas a educação, criticá-las, analisá-las e evidenciar sua inadequação pode gerar práticas educativas mais condizentes com nossa realidade brasileira. Hoje, as imposições continuam, mas há uma relação de construção contínua e a visão de que a escola é um espaço social próprio de duas dimensões, que busca tanto delimitar quanto unificar a ação dos sujeitos. A todo instante ocorre o confronto do novo com o velho, mas este confronto deve ocorrer a fim de ampliar a análise educacional para atingir as necessidades do cotidiano escolar.
A escola mantém uma rotina em seu cotidiano, em que acontecem as mesmas coisas todos os dias, e não percebemos a amplitude das diferenças que ocorrem nas relações, a diversidade cultural, étnica e a bagagem que cada indivíduo carrega conseguem.
Professores e alunos se encontram em lados opostos, em vez de estarem lado a lado buscando o conhecimento e o crescimento juntos.
Percebe-se que a escola na está inserida na sociedade, como se fosse um mundo a parte com seus papéis específicos que não atendem a realidade da sociedade como objeto de conhecimento.
Se olharmos atentamente para a escola e para cada um dos alunos do qual dela fazem parte, perceberemos que antes de mais nada, são pessoas, seres humanos também com expectativas e necessidades. Olhá-lo apenas como aluno é muito pouco e como um conjunto então, é inadmissível. O professor não percebe o aluno como um ser único com diferentes vivências, mas sim como um objeto inserido num grupo onde para ele, todos são iguais, homogêneos, tendo as mesmas dificuldades e ansiedades. Os conteúdos são distantes da realidade do aluno e também não atendem aos seus interesses, ou seja, são transmitidos e cobrados tal qual forma passados. Não é valorizada a caminhada do aluno e existe uma desarticulação entre vivência, conteúdos e escola, assim como uma visão estereotipada deste. Muitas vezes passamos por situações em sala de aula que nos dão indícios de que algo não está certo e não percebemos. Se um aluno nos questiona é visto como indisciplinado. Talvez este aluno esteja querendo mais, quer ir além do que é habitual e a escola não está atendendo às suas reais necessidades, esquecendo-se de que ele é um ser humano com múltiplas carências e expectativas e que deve existir um olhar e uma prática mais reflexiva dentro do âmbito escolar.
O PPP deveria contemplar a heterogeneidade dos alunos e atingir a diversidade, no entanto acaba reforçando a desigualdade no momento em que coloca todos no mesmo patamar. Esquece-se de que ao chegarem ali já trazem consigo uma bagagem cultural imensa de vivências e experiências diferenciadas e de que seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social também são diferentes, conforme as relações sociais estabelecidas anteriormente, paralelas e provavelmente posteriores à escola.
Cada aluno possui a sua história, que varia conforme o ambiente em que está inserido, sendo necessário que o professor compreenda-os como seres únicos com objetivos, projetos e valores diferentes.
Não se pode esquecer que o meio produz experiências e estas produzem a história que os faz agir determinadas por sua cultura. O meio social, amigos, sociedade influenciam na construção da personalidade de cada indivíduo onde cada indivíduo tem a sua experiência de vida que é única, onde cada indivíduo é o que viveu e vive modificando-se a medida em que amadurece.
Por mais que se queira rejeitar a realidade em que se nasce e vive ela interfere na construção do indivíduo social que é.
A sociedade é formada por grupos de acordo com interesses e características e os indivíduos vão se inserindo de acordo com as suas necessidades e experiências vividas, que ao longo da vida as necessidades e experiências vão sendo reconstruídas, reelaboradas ou substituídas e novos grupos vão se formando e adaptando-se a sociedade e não o inverso.
Dentro de uma mesma realidade podem existir múltiplas falas, vivências, experiências e interpretações, o indivíduo tem a possibilidade de permanecer, sem modificá-la ou buscar ações que visem transformar esta realidade ou ainda procurar outros grupos com realidades diferentes mas que atendam as suas necessidades individuais.
As relações sociais educam, formam, produzem indivíduos únicos provenientes de realidades também únicas. A educação acontece em diferentes momentos, situações e espaços mesmo informais. Acontecem independente das possibilidades e limitações de cada ser, das imposições da sociedade, do núcleo familiar, da questão econômica e religiosa.
A cultura contempla uma política ideológica presente nos processos individuais, que em muitas ocasiões irão divergir da própria cultura do indivíduo. A partir disto o indivíduo pode adequar-se, divergir, respeitar ou simplesmente apropriar-se do que lhe for conveniente desta cultura, para criar seu projeto pessoal, o qual pode variar de acordo com a idade e amadurecimento.


A escola faz parte do projeto do indivíduo, mas não é o projeto de vida em si, porém dependendo do papel que assume, das ações e relações que estabelece com o indivíduo, pode interferir de forma positiva ou negativa na realização deste projeto. Para cada indivíduo a escola tem um sentido portanto, jamais será universal e poderá desenvolver ações que reduzam-no a cópias idênticas.
O projeto pedagógico tem que atingir tais questões e ampliar os projetos dos alunos. A escola deve ser constantemente um espaço aberto, amplo, inquietante, que coloca regularmente o indivíduo e suas concepções em confronto com as dos outros. Situações como estas devem servir para acrescentar conhecimento, vivência e crescimento ao seu ser e colaborar na reconstrução de novos valores e atribuições.
A escola é um instrumento de educação e não um transmissor de conhecimentos, por isso precisa dar conta dos questionamentos, das deficiências de seus alunos e perceber as diferenças não como deficiências, mas sim como parte de múltiplas culturas, resgatando-as, valorizando-as e destacando estas diferenças dos alunos como ser rico em experiências e história.
A escola tem reflexos da sociedade mostrando a separação entre alunos e professores, com a sua frieza e rigidez quanto a individualidade de cada indivíduo.
Até mesmo a arquitetura escolar é capaz de aproximar ou distanciar os indivíduos, de estimular relações de troca e construção de valores, assim como também pode ajudar a promover ainda mais a segregação e individualidade. Pela organização do espaço escolar percebe-se qual a concepção educativa presente na escola, além do tipo de relação que esta estabelece com a comunidade escolar.

Todas as dependências da escola devem ser pensadas de forma a contribuir para o desenvolvimento de práticas pedagógicas emancipatórias. A escola deve reconhecer-se como espaço de mudança, luta e emancipação de todos os que dela fazem parte
A escola não deve isolar-se, mas sim romper os muros escolares a fim de criar parcerias com o seu exterior. Esta aproximação estimulará a troca, a solidariedade, o respeito, a confiança e a participação de indivíduos que poderão contribuir para o desenvolvimento de práticas educativas mais significativas.
Assim como a escola não deve isolar-se da comunidade e de sua realidade, o professor também não deve reduzir o espaço de aprendizagem a quatro paredes de uma sala de aula, muitas vezes desestimulante. Professores e alunos podem ressignificar o espaço escolar, de forma a ampliar as possibilidades de relações e aprendizado individual e coletivo.

Lindonéia, a Gioconda do Subúrbio!!


Lindonéia, a Gioconda do Subúrbio, 1966-Rubens Gerchman

O tropicalismo foi um movimento musical que atingiu diversas esferas culturais, iniciado no Brasil na década de 60 e tem como marco inicial o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record.
O Brasil fervilhava culturalmente com uma intensa produção que ia de peças teatrais, a canções de protesto, passando pelos filmes e artes plásticas, com intelectuais e movimentos de esquerda agindo de forma livre, sem grandes problemas com a censura.
As mudanças políticas, sociais, culturais e comportamentais ocorridas na década de 60, marcaram o início de um novo tempo, mudando a cara do Brasil. Para a rebeldia tropicalista tudo parecia fácil e possível e os sonhos pareciam transpor a realidade, mesmo com a tensão reinante.
O Tropicalismo foi inovador ao mesclar aspectos tradicionais da cultura nacional com inovações estéticas da pop art. Houve um sincretismo entre vários estilos musicais como, por exemplo, o rock, a bossa nova, o baião, o samba e o bolero. Estes traziam em suas letras musicais um tom poético, carregado de críticas sociais e temas do cotidiano, repletos de criatividade.
Este movimento propunha revelar a realidade e suas contradições: o arcaico e o moderno, o nacional e o estrangeiro, o rural e o urbano, o progresso e o atraso. Em outras palavras, quis mostrar particularidades da cultura brasileira, mescladas à cultura latino-americana, resgatando-a e transformando-a.
A arma de protesto dos tropicalistas era a música, com uma estética musical inovadora, utilizando-se de guitarras. O Tropicalismo foi representado por nomes como: Caetano veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Tom Zé, Jorge Bem, Gal Costa e Maria Bethânia.
Os músicos do Tropicalismo tinham como objetivo manter uma linguagem realista e atual, renegando o compromisso com estilos, modismos, coisas feitas e esgotadas.
Os músicos vanguardistas de esquerda foram protagonistas de uma luta contra o autoritarismo e a desigualdade social, sugerindo a internacionalização da cultura e uma expressão estética diferenciada onde a cultura de massa obteve a mesma importância da cultura erudita.
Neste movimento ocorreu a inclusão nas artes plásticas das questões políticas e críticas sociais integrando novas linguagens a serem assimiladas para que fossem ditas e vistas, de forma que a mensagem estaria nas entrelinhas e associadas ao meio. Havia a necessidade de se falar de um mundo opressivo que causava desconforto e impelia os artistas a uma luta engajada de forma artística buscando expressar uma violência para despertar uma sociedade anestesiada e insensível, diante do regime ditador.
Portanto, o Tropicalismo conseguiu modernizar o cenário artístico brasileiro adotando novos padrões estéticos, sendo um movimento revolucionário que influenciou gerações das décadas posteriores, mesmo tendo pouca duração. Liberdade resume o que foi este movimento e a obra Lindonéia, faz parte deste período marcante, deste grito de liberdade pelo qual lutaram os tropicalistas, além de estar representada tanto na obra, quanto na letra da música, a vida da miscigenada população brasileira na época da ditadura. .



Referências Bibliográficas:






domingo, 17 de julho de 2011

Revista Pátio
Ano VII - Nº 27 - Dilemas Práticos dos Professores - Agosto à Outubro 2003



Entrevista
António Nóvoa


"Os professores estão na mira de todos os discursos. São o alvo mais fácil a abater"

Ser professor é o mais impossível e o mais necessário de todos os ofícios. Quem afirma é o educador português António Nóvoa, vice-reitor da Universidade de Lisboa. Doutor em Educação e catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, Nóvoa preside a Associação Internacional de História da Educação e é bastante conhecido dos professores brasileiros, que costumam lotar suas conferências. "Ser professor implica um corpo-a-corpo permanente com a vida dos outros e com a nossa própria vida. Implica um esforço diário de reflexão e de partilha", diz Nóvoa nesta entrevista, concedida à Pátio por e-mail pouco antes de vir ao Brasil para participar do Congresso Internacional sobre Avaliação na Educação, em Curitiba, e do II Congresso de Educação do Marista de Salvador, ambos em julho. Ao longo da conversa, fica clara a importância que António Nóvoa atribui à cooperação e ao intercâmbio nas escolas para o exercício do impossível e necessário ofício de professor. "Ninguém é professor sozinho, isolado. A formação exige partilha. A atividade docente necessita de dispositivos de acompanhamento", afirma. Esta e outras idéias são discutidas a seguir, com a lucidez e a clareza que caracterizam o pensamento de António Nóvoa.

Pátio - Estão acontecendo reformas educacionais em vários países do mundo. Como o senhor vê essas reformas e qual a possibilidade de elas terem efeitos duradouros em uma instituição como a escola, que é sabidamente resistente a mudanças?


António Nóvoa - Vivemos em uma sociedade do espetáculo e do consumo. A mídia dramatiza os debates educativos, por vezes até o limite do insuportável, e impõe-nos idéias feitas, rankings, classificações e hierarquias que servem aos propósitos de uma relação consumista com a escola. Os alunos e as famílias são vistos como "clientes" que devem proteger os seus interesses. É uma atitude legítima, pois, quando não há um projeto coletivo coerente, prevalecem os interesses individuais. Porém, é uma atitude que condena, a longo prazo, a concepção da educação como um "bem comum". Muitas reformas educacionais atuais são portadoras dessa "educação bancária", uma nova versão daquela que há tempos foi denunciada por Paulo Freire. Agora, não é tanto a relação professor-aluno que está em causa, mas sim a relação escola-família. Na minha opinião, é bom resistir a essas mudanças.Temos tendência para encarar a mudança como um "valor positivo". Infelizmente, muitas vezes muda-se para pior! A educação exige grande serenidade e bom senso. Não podemos correr atrás da primeira moda!

Pátio - O que lhe parece que seria necessário em uma "mudança para melhor"?


Nóvoa - São três os aspectos que me parecem centrais na refundação da escola: uma nova organização do trabalho escolar, uma nova relação com o espaço cultural e uma nova concepção do conhecimento. Quero referir-me, em primeiro lugar, à necessidade de adotarmos formas inovadoras de trabalho, quebrando a rigidez tradicional do "modelo escolar" e desenvolvendo práticas de diferenciação pedagógica, de redefinição dos espaços e tempos letivos, de gestão integrada dos ciclos de aprendizagem, de reconceitualização do currículo. Em segundo lugar, quero salientar a importância de repensar o lugar da escola, já não como um "templo do saber", recolhido e isolado da sociedade, mas como uma "peça" (uma peça importante, mas apenas uma peça!) de um espaço cultural habitado por saberes e instituições que devem tomar parte ativa no esforço de educar e de formar. Por último, quero chamar a atenção para a urgência de romper com concepções excessivamente "clássicas" do conhecimento, abrindo o currículo à contemporaneidade (cultural, artística, científica, tecnológica) e favorecendo a reflexão crítica sobre o próprio saber.
Nada disso é novo. Há muito que sabemos o que é preciso fazer. Agora, é preciso ter a coragem de fazer. Não é uma questão de boas intenções. É uma questão de vontade e de competência.

Pátio - Hoje em dia, fala-se muito em profissionalização dos professores. O que é preciso para se efetivar realmente essa profissionalização?


Nóvoa - Os professores estão na mira de todos os discursos. São o alvo mais fácil a abater. No passado, construíram uma imagem social respeitada: eles detinham as chaves da mobilidade social e o prestígio do saber. Hoje, há meios mais eficazes de promoção na sociedade, e o saber (ou, ao menos, a informação) expandiu-se um pouco por toda a parte. Os professores ressentiram-se dessa dupla perda e têm dificuldade em reconstruir uma nova identidade profissional. São estes, a meu ver, os dois dilemas da profissionalização dos professores.
O século XX assistiu a um interesse sem precedentes pela educação da infância e da juventude. O que era assunto de alguns - os professores - passou a ser preocupação de todos. Foi uma transformação importantíssima. Contudo, no caso do ensino, ela ajudou a fomentar a ilusão de que as tarefas docentes podiam ser desempenhadas por qualquer um. Definir um lugar profissional específico em um campo socialmente tão saturado é uma missão quase impossível.

Pátio - Quais as competências necessárias a essa profissionalização?


Nóvoa - Mais do que elaborar uma "lista de competências" (conceito controverso, aliás!), importa insistir em três pontos: primeiro, na necessidade de uma sólida formação inicial, que dote os professores de um bom repertório teórico e metodológico; segundo, na importância de acompanhar os jovens professores, permitindo-lhes um tempo de transição, de aprendizagem do ethos e das rotinas da profissão; terceiro, no caráter decisivo de uma integração em um grupo docente que, no quadro de projetos de escola, promova uma atitude de formação, de reflexão e de inovação.

Pátio - Significa dar ao professor uma maior valorização dentro da escola?


Nóvoa - Sem dúvida. Muitas vezes, centramos a nossa energia no primeiro tempo da formação (a formação inicial) e esquecemos os outros dois tempos. Por um lado, o tempo "curto" de transição entre a formação e a profissão, isto é, os primeiros anos de exercício profissional, que são, talvez, os mais decisivos na vida de um professor. Muito do nosso futuro como professores joga-se nesse período de contato com a realidade escolar e profissional. É aqui que os jovens professores mais necessitam de apoio, de um acompanhamento próximo dos colegas experientes, de um espaço de debate e de diálogo que os ajude a se integrarem na profissão. Por outro lado, o tempo "longo" do nosso percurso profissional, vivido dentro de escolas que têm de ser, elas próprias, lugares de formação. É por isso que me parece tão importante reorganizar as escolas como espaços de aprendizagem cooperativa, onde os professores possam ir formando-se em um diálogo e em uma reflexão com os colegas. Ninguém é professor sozinho, isolado. A formação exige partilha. A atividade docente necessita de dispositivos de acompanhamento.

Pátio - O professor pode ensinar e, ao mesmo tempo, ser um pesquisador?


Nóvoa - Quando falo de acompanhamento, quero referir-me a um acompanhamento dialógico, à inscrição na rotina profissional de hábitos de discussão e de reflexão. Inevitavelmente, estamos falando do "professor como pesquisador". É um debate difícil, pois está marcado por duas resistências muito fortes. Por um lado, a crítica daqueles que consideram que "a ciência começa onde o senso comum acaba" e que, portanto, não aceitam a possibilidade de um pensamento reflexivo baseado na experiência. Por outro lado, a suspeição contida em um velho provérbio chinês - "a experiência é uma lanterna que trazemos às costas e que apenas ilumina o caminho já percorrido" - que chama a atenção para a dificuldade de inovar a partir da experiência. Essas duas "resistências" têm sentido. É preciso cuidado para não transformar a pesquisa em mera reprodução do senso comum ou da tradição. Mas, hoje em dia, é impossível desperdiçar a experiência e, sobretudo, a reflexão sobre a experiência.

Pátio - Qual a saída?


Nóvoa - É aqui que entra um novo conceito de pesquisa. O conhecimento do professor depende de uma reflexão prática e deliberativa. Depende, por um lado, de uma reelaboração da experiência a partir de uma análise sistemática das práticas. É essa análise sistemática que permite evitar as armadilhas de uma mera reprodução de idéias feitas. Depende, por outro lado, de um esforço de deliberação, de escolha e de decisão que passa por uma intencionalidade de sentidos. A reflexão e a decisão pertencem a duas ordens distintas. E uma não conduz, inevitavelmente, à outra. É essa intencionalidade que permite virar a "lanterna da experiência" para frente, de forma que ilumine o presente e o futuro, e não apenas o passado...

Pátio - O que é necessário para que isso aconteça?


Nóvoa - Nos últimos anos, vulgarizou-se o conceito de "transposição didática" para falar do ato de ensinar. Pessoalmente, parece-me mais adequado falar de "transposição deliberativa", uma vez que a ação do professor depende de um trabalho de deliberação, na dupla perspectiva da "reflexão" e da "decisão". Ora, esse trabalho de deliberação exige uma atitude de pesquisa que tem uma dimensão individual (de reflexão de cada um sobre a sua própria experiência) e uma dimensão coletiva (de confronto da nossa reflexão com o olhar dos outros, em particular dos outros colegas). O que exige, sem dúvida, condições de trabalho e de exercício profissional que, muitas vezes, não existem nas nossas escolas. Exige, além disso, uma ligação mais íntima entre o espaço escolar e o espaço universitário. O que exige, por último, um esforço de formalização e de escrita. A pesquisa passa sempre por uma prática de escrita que ajuda à formalização de um saber específico, à sua partilha e ao reconhecimento social de um dado grupo profissional. Escrever é um dos modos mais eficazes de transformar a experiência em conhecimento. Por isso, é tão importante que os professores assumam uma palavra escrita.

Pátio - De que forma o uso de materiais multimídia na sala de aula tem sido um dos propulsores das reformas? O professor está preparado para trabalhar nesta sociedade da informação?


Nóvoa - Podemos dizer que, hoje em dia, ninguém está preparado para trabalhar nesta "sociedade da informação", com um volume absurdo de informação ao alcance de toda a gente e uma desatualização permanente dos conhecimentos. Há dias, ouvi um conceituado cientista dizer: "Eu sei que 50% dos conhecimentos que ensino nas minhas aulas estão ultrapassados. O meu problema é que não sei identificar a metade que está ultrapassada e a metade que não está".
Os trabalhos de Manuel Castells sobre a Galáxia Internet são muito interessantes para compreender a importância de adquirir "uma capacidade intelectual de aprender a aprender ao longo da vida, recuperando a informação que está digitalmente armazenada e utilizando-a para produzir conhecimento". Como ele diz, estamos diante de uma mudança radical: "antes de começarmos a mudar a tecnologia, a reconstruir as escolas e a voltar a formar os professores, necessitamos de uma pedagogia nova, baseada na interatividade, na personalização e no desenvolvimento de uma capacidade autônoma para aprender e para pensar". Este é um dos grandes desafios do futuro para os professores.
No entanto, não vale a pena entrarmos em uma agitação frenética e anunciar todos os dias uma "revolução tecnológica". Fornecer os instrumentos de cultura, desenvolver metodologias de tratamento da informação, aprender a organizar o seu próprio trabalho ou elaborar formas de comunicação verbal e escrita são, desde o princípio do século XX, algumas das principais preocupações inscritas nas melhores experiências pedagógicas. O patrimônio histórico dos professores é a melhor garantia do seu futuro. Tudo se passa, é certo, em um novo ambiente social e tecnológico. Mas não façamos disso um bicho-de-sete-cabeças.

Pátio - É possível priorizar o afeto, a formação integral, quando os professores trabalham com turmas grandes, que precisam ser "controladas" e que devem mostrar resultados?


Nóvoa - Eu vou dizer duas coisas sobre o afeto e a formação integral que os educadores, de um modo geral, não gostam de ouvir. Peço que tentem ler historicamente as minhas palavras.
O afeto é um elemento central de qualquer processo de aprendizagem. Não é possível aprender sem uma dimensão de risco, de passagem do desconhecido para o conhecido, de esforço pessoal, de aventura. E tudo isso necessita de um suporte afetivo, de uma rede de afetos. Porém, a função da escola não é primordialmente afetiva. John Dewey disse isso há muito tempo. Mais do que uma "comunidade", onde as pessoas se escolhem e a vida coletiva é baseada em afetos, a escola deve ser uma "sociedade", isto é, um lugar onde se aprendem as regras da vida em comum, onde se trabalha com objetivos bem definidos, onde se procura que cada um vá o mais longe possível no seu desenvolvimento. Philippe Meirieu explicou-o muito bem ao falar dos "jovens em dificuldade", ao dizer que o problema principal que eles enfrentam não é uma "ausência de comunidade", mas sim uma "ausência de sociedade": "não conseguimos construir com eles a possibilidade de aceder a uma relação de respeito mútuo, de escuta mútua, de colaboração mútua em um lugar que não é, primordialmente, um lugar afetivo, um lugar de dominação de um guru qualquer, um lugar onde a personalidade individual se esbate no seio de manifestações tribais coletivas".
A formação integral é, juntamente com a autonomia, o conceito-chave da pedagogia moderna. Ninguém duvida da importância de formar a pessoa na sua inteireza. As recentes descobertas das neurociências reconfortam-nos na impossibilidade de separar a consciência, as emoções e o sentimento. Pensamos com o corpo e sentimos com a inteligência. Mas a idéia de formação integral conheceu alguns desvios totalitários, que nos levaram a confundir a condição privada e a condição pública do educando, acabando por tudo querer controlar. A crença na formação de um "homem novo" situa-nos na fronteira do intolerável. E a autonomia quantas vezes não foi além daquela anunciada por Rousseau: "O aluno só deve fazer o que quer. Mas só deve querer o que vocês querem que ele faça. Não deve dar um passo sem que vocês o tenham previsto. Não deve abrir a boca sem que vocês saibam o que ele vai dizer".

Pátio - Isso coloca em xeque algumas das principais convicções pedagógicas.


Nóvoa - É verdade. Não podemos continuar a repetir, sem um olhar crítico, idéias que fundaram a pedagogia moderna, mas que hoje precisam ser repensadas. E, no entanto, também eu concordo que é preciso "colocar os afetos dentro da inteligência", também eu defendo que "só na autonomia e pela autonomia é que se realiza uma verdadeira educação". Todavia, precisamos ir mais longe nessa reflexão. Quanto às "turmas grandes", mencionadas na pergunta anterior, pouco posso dizer. É muito difícil responder a questões que se prendem à falta de condições para uma escola de qualidade. Podemos lamentar. Podemos dizer que há colegas que, em condições idênticas, fazem verdadeiros milagres. Podemos explicar a necessidade de recorrer a certas técnicas e métodos de ensino. Mas é uma conversa um pouco redonda... Temos uma responsabilidade como educadores. Ninguém dirá que os milhares de cientistas que dedicaram sua vida à procura de uma cura para o câncer são todos uns incompetentes e malsucedidos. Na ciência, é possível não ter resultados, pelo menos a curto e médio prazos. Na educação, não é. É verdade que a aprendizagem não se decreta. E que não podemos obrigar ninguém a aprender. Porém, essa constatação não reduz em nada a nossa responsabilidade de ensinar. É o compromisso com a educação de todas as crianças que nos dignifica como educadores e dá sentido à nossa profissão.

Pátio - Do seu ponto de vista, quais os desafios para o professor do século XXI e como enfrentá-los?


Nóvoa - Poderia responder de muitas maneiras e todas imperfeitas. Falarei apenas de três desafios: a lucidez, a coerência e a abertura.
O professor trabalha em uma sociedade em permanente mudança, atravessada por conflitos e dilemas difíceis de resolver. O pensamento dicotômico não traz nenhuma solução: Educação ou instrução? Aprendizagem ou ensino? Desenvolvimento da pessoa ou aquisição do conhecimento? Liberdade ou autoridade? Métodos ou conteúdos? Interesse ou esforço? O drama do professor é a impossibilidade de optar por um ou por outro desses termos, pois o ato educativo só se completa quando eles se encontram e se transformam em um só. O primeiro desafio do professor é o desafio da lucidez. Ele deve possuir os instrumentos para uma análise séria e informada, que lhe permita encontrar, em colaboração com os seus colegas, as soluções mais adequadas para educar todas as crianças.
As sociedades atuais têm leituras muito complexas, e os professores são chamados a desempenhar inúmeras tarefas e missões. Por vezes, sonhamos com uma escola calma e tranqüila, freqüentada por alunos disciplinados e movidos por um enorme desejo de aprender. Contudo, este é um retrato idílico da escola, o qual não corresponde de forma alguma à realidade. Hoje, os professores necessitam não só de uma formação bastante sólida, mas também de dispositivos de acompanhamento e de reflexão. É isso que lhes permite responder ao desafio da coerência, não reagindo de modo avulso à panóplia de solicitações (de métodos novos, de técnicas, de projetos, de iniciativas, de tecnologias, etc.), mas mantendo uma grande serenidade baseada em um modo pessoal, único, de serem professores.
Freqüentemente, as escolas são espaços fechados ao mundo, fechados às novas realidades sociais, fechados à ciência, à arte, à cultura. Os professores reconfortam-se, por vezes, na imagem da escola-recolhimento, da escola como espaço afastado do mundo onde as crianças possam crescer como crianças. É uma imagem que também eu gosto de partilhar. Mas ela não é contraditória com o desafio da abertura, com a necessidade de trazer a contemporaneidade para dentro das escolas. Em uma sociedade que se quer do conhecimento, as escolas não podem ser "instituições fossilizadas" e têm de participar das "redes" e das "teias" que tecem o nosso século.
Ser professor implica um corpo-a-corpo permanente com a vida dos outros e com a nossa própria vida. Implica um esforço diário de reflexão e de partilha. Implica acreditar na educabilidade de todas as crianças e construir os meios pedagógicos para concretizá-la. Será por isso que Freud lhe chamou o ofício impossível? Provavelmente. Ser professor é o mais impossível e o mais necessário de todos os ofícios.

sábado, 16 de julho de 2011

Anos 80 e Teresa Poester.

Características da “Geração 80” e o trabalho de Teresa Poester

Uma das características da geração 80 é o retorno ao fazer manual e prazeroso da pintura, com movimentos gestuais de grandes proporções, o qual estava representado nas obras com cores vibrantes, distribuindo paisagens, objetos e formas por toda a extensão da tela.
Este período reflete o pluralismo político que surgia após anos de repressão e ditadura, no qual jovens artistas, através de suas obras, fizeram ressurgir a figuração pop, buscando uma arte que expressasse livremente a imaginação, a transcendência, o humor e a criação artística com sua individualidade reconhecida e que, além disso, promovesse a transformação social de todos os indivíduos.
A geração foi marcada também pela experimentação do ato de pintar, inserindo a este fazer diversas técnicas e materiais tais como: recortes, colagens, tecidos e o suporte deixou de ser apenas a tela e as paletas, ocorrendo a inserção da tecnologia e de novos estilos, cores e formas.
Era comum o acabamento bruto, a combinação de cores contrastantes e desarmoniosas, resultando em obras híbridas e cheias de luminosidade, com multiplicidade de materiais e estilos, onde pintura e objeto uníam-se formando uma totalidade.
Descartando a idéia de pintura como grande obra, através de tintas comuns e telas sem molduras, retratavam temas da realidade, utilizando imagens relacionadas à comunicação para transformar seu propósito, adicionando elementos pessoais e irônicos e desencadeando um diálogo com a história da arte. Através de um intercâmbio de ideias e experiências, as obras desenvolvidas mostravam a relação reflexiva e pessoal de cada artista, opondo-se à arte conceitual e fazendo com que as próprias exposições fossem obras de arte.
Este tipo de pintura objetivava a percepção do mundo através do olhar, a comunicação direta com o espectador, bem como a leitura crítica e a integração entre arte e vida.
Havia uma descrença na política e no futuro e investimento no momento presente. A Geração 80 se utilizava da sensibilidade e originalidade e era a ponte entre o erudito e o popular, elaborando espaços, linhas e movimentos de forma poética.
Portanto, a “Geração 80” através de sua arte libertadora, desfez muitos dos princípios acadêmicos nas artes plásticas, repercutindo tanto nacional, quanto internacionalmente. Eliminou fronteiras de tempo e espaço, abordou a globalização e a nova face da liberdade artística.
A artista Teresa Poester vivenciou e participou da Geração 80 e possui em suas obras características da pintura desta geração, no sentido que utiliza cores vibrantes, suportes de grande proporção, através de movimentos gestuais expressivos e marcantes, repletos de autenticidade e contextualidade.
A realidade está presente nas obras, assim como a aproximação do público, que dialoga com cada linha, movimento, sensação e cor impressa nelas.
É perceptível em seus trabalhos a renovação, a inovação, a liberdade de criar, não se prendendo a modismos, assim como a busca constante por novos resultados, com novos materiais, e com a intencionalidade de que cor, forma e desenho se completem, de modo que nem um, nem outro se sobressaia.

Vik Muniz no Programa do Jô.

Arte: Vik Muniz

Ilusões Fotográficas de Vik Muniz

Vídeos utilizados no projeto: "Lixo Extraordinário"

Desafios na Contemporaneidade

ESCOLA TRADICIONAL

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Reação ao Movimento.

O tempo na velocidade da vida!

Por onde eu vou os números me acompanham...

Descobrindo, trilhando, construindo.








ANÁLISE CRÍTICA : SOBRE O QUE ESTAMOS PENSANDO COM NOSSOS VÍDEOS? VAMOS REFLETIR SOBRE ISTO?


Escolhi organizar o meu vídeo de forma que representasse um pouco o que estou vivendo com o curso de Artes Visuais. Nesta disciplina, tive mais uma oportunidade de experimentar e conhecer novos conceitos, novas práticas, novas técnicas, estilos e artistas e desenvolver novos olhares, mais aguçados, percebendo detalhes que antes não eram vistos na íntegra. Aliás, este curso, tem sido um desafio, é um constante “aprender a aprender”. É um subir e descer montanhas, desbravar o que está por trás delas, ir adentrando por caminhos desconhecidos que aos poucos se tornam parte de mim e que me impulsionam a continuar indo em frente apesar das pedras que encontro no meu caminho. Especificamente, nesta disciplina, por inúmeras vezes tive que buscar novas informações além das que nos são disponibilizadas, enfrentar a insegurança e o medo de errar, seja na hora de realizar as tarefas, seja na hora de postá-las. Não pelas informações serem insuficientes, mas porque a cada semana minha curiosidade ficava mais aguçada e queria me apropriar mais destes conhecimentos. Descobri mais uma vez que o ser humano é incompleto e assim permanecerá devido a rapidez com que novas informações surgem. É tudo ainda muito novo para mim. Um curso à distância e o uso da informática e suas ferramentas, programas que antes assustavam cada vez menos aterrorizantes e cheios de possibilidades. Duplo desafio. Aos poucos estou me superando e me realizando, tanto pessoal, como profissionalmente.


A imagem do avião ao fundo do vídeo nas alturas sobrevoando por entre as nuvens, mostra um pouco de mim e como me sinto em alguns momentos. Durante este percurso, na viagem ao mundo da arte há altos e baixos e as vezes tenho que parar como se tivesse que olhar tudo de cima, de outro ângulo para poder me situar, me organizar, mas em nenhum momento penso em parar. Bem pelo contrário, sigo em frente como o avião que tem um destino a seguir, um objetivo e um lugar para chegar durante o vôo e eu tenho uma meta a alcançar e, portanto, não posso me desviar ou parar, apesar das turbulências. Tenho que definir meus horários e lugares para estudo, desenvolver cada vez mais minha autonomia e ainda dar conta do trabalho, da família e de mim mesma.


As imagens de obras de arte que organizei no vídeo são uma pequena ponta deste iceberg tão imenso do qual agora faço parte, pinturas, lugares e possibilidades de crescimento e conhecimento que tenho utilizado em sala de aula e que tem me proporcionado a realização de trabalhos significativos.


Estou a cada dia redescobrindo um mundo novo, trabalhando frequentemente com a fotografia, com vídeos, uso da cor, luz, resolução das imagens, além de resgatar o processo dos gifs animados, aprender com o Movie Maker, Youtube, Stop Motion, noções de dimensão, pixels, transparência, resolução, áudio, direito autoral e com a história do livro ”Cinema, Vídeo, Godard, de Phillipe Dubois.



Tenho me dedicado e estou neste curso porque é a realização de um sonho e por isso, todo esforço é válido e enriquecedor. Fica cada vez mais clara para mim a amplitude da palavra Arte e sua função na educação. É uma pena que esta disciplina tenha chegado ao fim, porque pude aprender muito sobre a fotografia e sua história, o uso da câmera e as muitas funções, que antes nem me aventurava em mexer, por medo de estragar. Já olho com outros olhos as imagens do mundo que me cerca, percebendo seu contexto e sentido. No decorrer deste período, pude exercitar minha imaginação e observação crítica, perceber a força comunicativa dos objetos, imagens e fotografias a minha volta. Aprendi a ver, acelerar e reduzir a minha própria velocidade, que nada mais é do que a ansiedade de em muitos momentos ter que passar por cima de outros compromissos para dar conta das atividades do curso. Quando olho para trás fico a me questionar: Como dei conta de tudo? Como consegui fazer tudo isto em tão pouco tempo? Será que estou realmente conseguindo relacionar toda esta infinidade de informações que está diante de mim?


Acho importante que o professor seja um pesquisador, tenha o seu fazer artístico, que busque por vários caminhos, com diferentes metodologias, técnicas e estilos, porque isto também refletirá em estímulo no seu aluno na sala de aula. Através da pesquisa, deste curso e das práticas desta disciplina pude me aproximar da origem das representações artísticas, dos diferentes períodos históricos, dos registros deixados e da herança histórica que existe em nosso entorno, além de me apropriar e apreciar as mais diversas linguagens estéticas que envolvem o tema Arte.


Talvez por tudo isto e por outras inúmeras razões que aqui não relatei, ao final do vídeo tenha colocado a imagem do avião seguindo em frente, embora aparecendo de forma não tão nítida e sobreposto à ele uma árvore iluminada, representando as muitas aprendizagens significativas que ainda terei, sempre acompanhada de uma luz que me guiará pelo melhor caminho, abrindo espaço na escuridão e transformando o que ainda não vejo em algo claro e visível.

No sopro do tempo


“NO SOPRO DO TEMPO”


Para este último vídeo, novamente resolvi buscar cenas que de alguma forma estão atreladas ao ritmo de vida que estou vivendo. Pessoas apressadas na estação do trem de POA ou simplesmente caminhando pela rua e sobrepostas à elas uma árvore que balança ao vento. Não escolhi um áudio com música. Preferi manter o som original do vento, que tem o seu próprio tempo e ritmo.

Organizei o ritmo das imagens do vídeo de acordo com o meu ritmo atual, que, diga-se de passagem, está muito acelerado, as vezes inconstante ou quase incontrolável.

Quantas pessoas caminhando, quantos rostos e expressões diferentes, quantos pensamentos sendo elaborados, quantos olhos a se cruzarem, quantas histórias sendo construídas, quantos sonhos almejados, quantos destinos a serem alcançados. São pessoas que vem e se vão, que ficam, que passam e param.

Como aquelas pessoas do vídeo, vou e volto dos lugares com tanta rapidez que não percebo a beleza nas pequenas coisas do cotidiano, passo olhando para as pessoas sem estar as percebendo de verdade, correndo contra o relógio para dar conta dos compromissos.

As vezes penso em entregar os pontos, cansada, estressada, mas aí uma boa noite de sono e um minuto de conversa com alguém imensamente abençoado, me faz começar tudo outra vez.

O tempo passa...as vezes quero que ele pare, que acelere. Os ponteiros do relógio são segundos de descanso, minutos de reflexão, horas de estudo e trabalho, dias para reorganização do tempo, meses de momentos da vida que se vão e que poderiam ser sido melhores ou piores, anos de aprendizado, vivência e de concretização de uma infinidade de objetivos a serem alcançados.

Em contrapartida é este tempo que me mostra o quanto estou viva e que o vento naquela árvore do vídeo traz uma vontade de ficar a toa, sentindo um acariciar da brisa no rosto, que enlace e acaricie meus cabelos, simplesmente sentir, sem pensar em coisa alguma e só depois, continuar vivendo esta vida, antes que o relógio do tempo dispare.

Assim como nós o vento passa por fases e momentos de calmaria, brisas suaves ou ritmos de velocidade incomparáveis. O vento e as pessoas, cada qual com o seu tempo, se cruzando, num ritmo diferente, se tocando, se transformando e tudo tocando.

Em muitas ocasiões desejo que o dia seja maior para dar conta de todos os compromissos. São tantas as atribuições e ocupamos o tempo de tal forma que o tempo se torna escasso...ou será que não sabemos administrá-lo? É, acho que é isto, precisamos ter prioridades e escolher o que é primordial realizar com o tempo que temos disponível e é por isto que chega de escrever...meu tempo é curto, escasso e deve ser bem aproveitado. Vou seguindo, no sopro do tempo.

Análise Crítica do Livro Cinema, Vídeo, Godard, de Phillipe Dubois

Análise Crítica do Livro Cinema, Vídeo, Godard, de Phillipe Dubois

Phillipe Dubois, no livro Cinema, Vídeo, Godard, Phillipe Dubois propõe uma reflexão a cerca das mudanças, transformações e avanços à respeito do cinema, nos trazendo informações sobre a criação audiovisual e os desafios da mídia televisiva.

Através de estudos, pensamentos e resgate da história do cinema e do vídeo, Dubois propõe uma leitura mais introspectiva, nos levando a perceber questões relacionadas ao período inicial, intermediário e atual do cinema e do uso das mídias de informação e tecnologias como o computador, o qual ocupou uma importante posição, modificando o papel do cinema e os resultados alcançados e as projeções audiovisuais atuais, imersas em um período contemporâneo em que o mercado e seus interesses banalizam a criação audiovisual.

Discorre sobre as muitas transformações tecnológicas, estéticas e ontológicas vividas pelo cinema diante das inovações.

O próprio Dubois se considera alguém pertencente aos dois mundos, ou seja, não sendo apenas dos cinéfilos ou dos computadores, mas pertencente aos dois.

Pode-se dizer que o vídeo é mais democrático, pois todos tem a possibilidade de criar e acessar, basta que se tenha uma câmera na mão e uma idéia na cabeça, não necessitando se restringir à narrativas ficcionais de formato tradicional, ou a documentários.

Apresentação

“O cinema é uma forma de pensamento”

“O cinema como forma de interpretação do mundo.”

“O filme como uma manifestação teórica na tela.”

Na atualidade, o cinema não é restrito à contemplação, pois o espectador assume uma postura mais ativa, enxergando as diversas possibilidades, verificando os diversos pontos de vista e participando do contexto de significação da obra.

Os dias atuais possibilitam que o espectador passe a ser um produtor das diversas formas de interpretar o mundo conforme a sua visão, através da criação e da utilização das tecnologias disponíveis.

Através dos recursos audiovisuais percebemos temas e situações presentes no nosso meio, há a possibilidade de fazermos ligações com o mundo real, pois nele estão imersos e representados as emoções e pensamentos.

Vemos no vídeo o pensamento de alguém mostrado e construído com imagens. Quem o constrói pensa, reflete, experimenta e propõe que vejamos um pouco de si e do mundo que ele representa. É fruto de um estudo, uma mescla de conceitos e idéias e significados.


Introdução

“O imaginário cinematográfico está em toda parte e nos impregna até em nossa maneira de falar ou de ser”

“Um modo de respirar em imagens, de esposá-las, de lançar questões e tentar respondê-las”.

“Creio que só podemos pensar o vídeo como um estado, um estado do olhar e do visível, maneira de ser das imagens”.

Pode-se dizer que o vídeo assume múltiplas facetas, podendo assumir a forma de obra, objeto, imagem, instalação, processo... Sendo então um estado que possibilita a percepção de que não basta vê-lo, mas senti-lo.

O importante é a transformação realizada pelo cineasta no tratamento das imagens para que estas se tornem reflexivas, não cabendo julgar de onde estas imagens provêm se do visível ou do artificial.

O vídeo nos permite representar e pensar o mundo, visto que através das imagens podemos incessantemente refletir e como diz Dubois, caracterizar o vídeo como um estado.

O mundo contemporâneo permite que o vídeo esteja cada vez mais presente como instrumento e elemento de reflexão, apreciação e questionamento. Temos então, a missão de não nos desviarmos do papel de críticos, assumindo uma postura mais ativa, saindo do estado de simples espectadores, para nos transformar-mos em produtores.

Este leque de possibilidades faz do vídeo um importante instrumento da contemporaneidade, fazendo das criações audiovisuais elementos questionadores em que o espectador não encontra respostas prontas, mas sim interrogações, devendo buscar soluções e conclusões a partir do que observa e percebe.


Tentei recordar e buscar na memória algumas lembranças particulares relacionadas ao ensino e aprendizagem da arte e acho que nesta busca se mesclam momentos em que houve aprendizagem e outros que nem tanto, fazendo até travar minha criatividade e liberdade criadora.

No ensino fundamental lembro-me dos repetitivos desenhos livres, na qual não conseguia desenvolver as habilidades do desenho de forma criativa, apesar de gostar do desenho. Foram poucos os recursos utilizados pelas professoras que tive, para motivar os alunos e não havia estímulo, um contexto, era tudo muito solto, descontextualizado e monótono.

Além disso, havia a técnica do pontilhismo, do trabalho com retas e linhas curvas, mas tudo muito mecânico, objetivando cópias e repetições. As cores primárias, secundárias e terciárias e a mistura de tintas e as atividades relacionadas às datas comemorativas. Ainda haviam as dobraduras e também lembro de uma vez que construímos um crucifixo com palitos de fósforo.

Em casa desenhava muito, visualizava um desenho ou uma paisagem qualquer e saia desenhando, mas em algum momento ocorreu alguma coisa, houve um bloqueio que me fez perder o prazer pelo desenho. Até hoje não lembro o que ocorreu, mas gostaria de resgatar isto, pois somente quando ingressei no curso de Artes Visuais me aventurei novamente nesta área e vi que sou capaz de aprender e desenvolver as habilidades para o desenho, que é uma questão de treino e perseverança.

No segundo grau estudei em uma escola de freiras, bem tradicional, mas lembro que adorava as aulas de pintura em tela, canto e teatro, mas em nenhum momento lembro-me de serem apresentados para nós grandes artistas da pintura, obras consagradas e o contexto na qual foram criadas.

Projeto: Lixo Extraordinário"

PROJETO: “LIXO EXTRAORDINÁRIO”

TURMA: 6ª série

TEMPO DE DURAÇÃO: 12 períodos de 50 min.

JUSTIFICATIVA:

Considero importante incluir na proposta de aprendizagem da disciplina o estudo da arte contemporânea, visto que este plano foi desenvolvido com a mesma turma em que foi feita a observação e com a qual a professora titular vinha desenvolvendo atividades que se restringiam ao uso da linha, leitura de imagens de obras de arte que se resumiam a observação e representação da linha, não se desligando do papel ofício e do lápis, sem a utilização de um material diferenciado a fim de que os alunos pudessem desenvolver sua criatividade e ampliar a sua bagagem envolvendo o amplo campo de possibilidades da arte.

Vik Muniz é um artista importante, conhecido internacionalmente e suas obras deixam de figurar na parede para ganhar um ambiente de outro jeito, de outra forma, fazendo uma outra e nova relação com o espaço.

OBJETIVOS:

Desenvolver a criatividade e observação;

Desenvolver potencialidades de percepção e sensibilidade;

Reconhecer as obras de arte como forma de expressão e de comunicação dos indivíduos;

Utilizar recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;

Respeitar e valorizar a sua própria produção e a dos colegas, durante o processo de criação, reconhecendo que ele abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções;

Observar e analisar as suas produções, seu processo pessoal nas correlações com as produções dos colegas;

Aproximar o aluno das obras de arte que remetem a uma visão de arte com o espaço de mundo, com a possibilidade de manipular e interagir com a obra de arte;

Despertar o interesse dos alunos pela arte de Vik Muniz;

Reconhecer a importância da obra de Vik muniz dentro da perspectiva contemporânea e social;

Propor um espaço de desenvolvimento do processo criativo com a utilização de diferentes materiais;

Oportunizar o estudo da arte contemporânea através do conhecimento de obras do artista Vik Muniz, sua poética, experiência em diversos materiais e suportes;

Educar e sensibilizar olhares para a arte e para o ambiente que vivemos;

Estimular a pesquisa;

Sensibilizar para a importância de preservar o meio ambiente;

Trabalhar arte e cultura como estímulo para o desenvolvimento individual e social;

DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES:


Aula 1

Inicialmente apresentei o documentário “Lixo Extraordinário”, o qual apresenta as obras de Vik Muniz e o trabalho desenvolvido com os catadores de um aterro sanitário e que revela o passo a passo do processo criativo do artista. Assistimos ao documentário e em seguida, estimulei uma discussão em torno dos objetos, questionando se reconheciam os materiais utilizados na confecção e montagem das obras e que refletissem sobre a proposta do documentário.

Aula 2

No laboratório de informática, incentivei que fizessem uma pesquisa sobre a vida e a obra do artista para que compreendessem sua trajetória, suas convicções e sua essência como artista, assim como suas obras mais conhecidas e pesquisa de outros vídeos.

Aula 3

Após e durante a pesquisa, cada aluno teve que fazer algumas anotações sobre o artista. Já na sala, a turma foi dividida em pequenos grupos a fim de compartilharem o que descobriram sobre a vida de Vik Muniz. Dando continuidade, cada grupo fez sua apresentação oral para socialização e discussão. A professora fez a mediação levantando algumas questões: Que aspectos do trabalho de Vik Muniz atraem mais sua atenção? Você reconheceu obras de outros artistas no trabalho de vik? Percebeu como Vik Muniz as produziu?Quais são os materiais utilizados pelo artista? Vocês já conheciam este tipo de arte? O que é arte? O que é lixo?

Aula 4

A atividade anterior teve a intenção de convocar os alunos para assistirem ao vídeo de abertura da novela “Passione” disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=aOrfc0Jl8IA e a um pequeno trecho do vídeo “Ilusões Fotográficas de Vik Muniz” que se encontra disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=O7N3hUaElQ4 e em DVD, que foi o recurso escolhido por mim, para que despertos para a reflexão e aprendizado da arte, ficassem instigados a conversar, socializar suas apreciações e ficarem animados a produzirem, colocando em prática ações para a produção artística num momento posterior. Após a sessão de vídeos foi oportunizado um novo espaço para socialização e discussão a cerca dos vídeos, objetivando a desconstrução da ideia de que arte é objeto inatingível, de que as grandes obras só são passíveis de serem construídas com materiais caros e que na atualidade a Arte tem a finalidade de mobilizar as pessoas em torno de uma causa, propondo reflexões diversas.

Aula 5

O passo seguinte foi propor a produção de trabalhos inspirados na técnica de Vik Muniz, com o tema “Espaço Escolar”. Os alunos foram convidados a caminhar pelo pátio da escola, por suas dependências, fotografando os mais diversos espaços ou situações, incluindo inclusive alunos e professores, fazendo da fotografia uma referência para posteriores criações de obras, como faz o artista Vik Muniz. A professora ficou responsável por organizá-las para que fossem apresentadas no Data Show.

Aula 6

Reunidos no auditório, apresentei no Data Show todas as imagens fotografadas e coletivamente selecionamos quatro para que fossem ampliadas com o auxílio do retroprojetor em papel pardo. Os alunos então ficaram incumbidos de reunir os mais diversos materiais presentes na escola, seja no recreio ou nas lixeiras, trazendo também de casa (tampinhas, palitos, cordões, garrafas, latinhas, embalagens, revistas, papéis de balas, figurinhas, rodas de carrinhos, lantejoula, carretéis, algodão, miçangas, linhas, balões, moedas, erva e café, areia...) para que em grupos de sete integrantes pudessem construir a imagem escolhida tal qual o artista Vik Muniz propõe numa aula posterior.

Aula 7

A professora trouxe para a sala uma reprodução de algumas obras de arte que serviram de inspiração para Vik Muniz desenvolver o seu processo criativo e reunidos em uma roda, no centro da sala, os alunos puderam apreciar as obras, assim como reconhecerem os autores das mesmas, como já haviam feito na informática. Divididos em grupos deveriam reproduzi-las, encenando como modelos, representando-as organizando espaços na sala com o auxílio de mesas, cadeiras, tecidos e outros materiais para que com a cena montada fossem fotografados. As obras para encenação foram A Morte de Marat, Mona Lisa e O Naufrágio da medusa.

Aula 8

Mais uma vez a professora trouxe para sala de aula as reproduções ampliadas de obras de arte e depois de novamente observarem e discutirem sobre as mesmas, cada um recebeu uma folha A2(Cartolina) e individuamente e ou em duplas, como foi da vontade de alguns alunos, com o auxílio do retroprojetor fizeram a cópia da imagem e de seus traços principais, a fim de facilitar no momento da produção, para o qual escolheram dentre os materiais que trouxeram para a sala de aula, um ou alguns para comporem a sua releitura. Enquanto alguns faziam as suas ampliações, um outro grupo ficou com a tarefa de fazer a separação dos materiais trazidos de casa e juntados na escola, organizando por cor, tamanho, forma, a fim de facilitar o trabalho para a próxima aula.

Aula 9

Produção das releituras das obras escolhidas com os materiais trazidos anteriormente de forma individual e em duplas. Toda a atividade foi realizada no auditório, pois como não haveria nenhum evento nos próximos dias, este estaria vazio e pudemos deixar os trabalhos dispostos no chão. O desafio aqui foi motivar os alunos a criar este trabalho com a consciência sobre o caráter poético desta criação, que escolhessem seus próprios caminhos para atingir tal objetivo, mas com o professor assumindo o papel de facilitador, nutrindo-os de idéias até a finalização do trabalho.

Aula 10

Produção da releitura das quatro imagens fotografadas, em grupos de sete integrantes, com os materiais trazidos anteriormente e tendo o papelão como principal suporte. Novamente o trabalho foi desenvolvido no auditório, sendo um espaço amplo para deixar as produções.

Aula 11

Mais uma vez olhamos no Data Show, as imagens que haviam sido fotografadas, para que pudéssemos nos certificar de que a apresentação serviria para uma possível exposição e dialogando sobre quais modificações fazer.

Aula 12

Em papel pardo e de posse das anotações referentes a pesquisa sobre Vik Muniz, os alunos criaram cartazes com informações sobre o artista e seu trabalho, anexando algumas fotografias de suas obras de releitura.

Culminância:

Realização da exposição nas dependências da escola para a comunidade escolar dos trabalhos construídos (fotos, produções coletivas e individuais, cartazes, vídeos...). Os alunos se organizaram de forma a fazerem a curadoria, explicando como foi desenvolvido o trabalho e o que puderam aprender a partir do mesmo.